Vou contar algo que aconteceu fora da ABU: Eu namorava um menino há anos e, por querer dizer que casei com meu primeiro namorado, perdoei as traições do início do namoro e também ignorava as situações de abuso que se desenhavam. Eu me sentia cada vez mais podre, mais feia, mais chata, mais briguenta, a partir do que ele falava pra mim, mas queria insistir no relacionamento. Uma menina da igreja tinha sido “descoberta” como não-virgem e, pra mostrar os dois lados da moeda, decidiu entregar todos os meninos com os quais teve qualquer coisa. Um deles era meu namorado. Não bastasse todas as situações de machismo que eu já tinha passado por durante o namoro, ainda tive de ouvir o pastor dizer que queria conversar com meu PAI sobre o assunto. Não foi comigo, não foi conosco, mas com o meu pai. Ninguém nunca me perguntou como era o meu namoro, ninguém nunca duvidou de que talvez eu sofresse abusos emocionais e físicos. Tive de sair da igreja pra conseguir terminar o namoro sem ter meu pai metido na história. Achei extremamente desrespeitoso o pastor me tratar como “propriedade” do meu pai e nem tentar falar comigo antes. Anos depois, esse mesmo pastor publicou um livro sobre casamento e quis usar minha página no facebook pra divulgar sua obra. O meu ex-namorado nunca nem percebeu os abusos que fez, tamanha a naturalidade daquilo, e ainda disse para todos os seus amigos que ELE tinha terminado o namoro porque EU o traí. Perdi grande parte dos amigos da minha adolescência por isso.”

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