Agar: existir em meio à solidão

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Quem é Agar?

Nesse Estudo Bíblico Indutivo, vamos estudar sobre Agar, uma das mulheres negras africanas da Bíblia. Agar era escrava de Sara, esposa de Abraão, primeiro patriarca de Israel. Em meio a tantas particularidades da vida de Abraão relatadas em Gênesis, a história de Agar é quase ignorada em nossos púlpitos.

Quando ouvimos falar sobre ela, são comuns discursos que a colocam na posição de inimiga e destruidora de lares. Estudamos um pouco sobre o começo da história dela no capítulo 16 de Gênesis, que já foi abordado no Projeto Redomas anteriormente.

Queremos continuar o exercício de olhar para o texto bíblico outra vez e resgatar a figura de Agar, essa mulher negra que passou por uma história dolorosa de abuso e solidão. Mais do que isso, queremos aprender com o choro dessa mulher preta que deu nome a Deus e reconheceu como o Deus que ouve e que vê.

 

Texto 1: Gênesis 21:9-21

9 Certo dia Ismael, o filho de Abraão e da egípcia Agar, estava brincando com Isaque, o filho de Sara. 10 Quando Sara viu isso, disse a Abraão: — Mande embora essa escrava e o filho dela, pois o filho dessa escrava não será herdeiro junto com Isaque, o meu filho. 11 Abraão ficou muito preocupado com isso, pois Ismael também era seu filho. 12 Mas Deus disse: — Abraão, não se preocupe com o menino, nem com a sua escrava. Faça tudo o que Sara disser, pois você terá descendentes por meio de Isaque. 13 O filho da escrava é seu filho também, e por isso farei com que os descendentes dele sejam uma grande nação. 14 No dia seguinte Abraão se levantou de madrugada e deu para Agar comida e um odre cheio de água. Pôs o menino nos ombros dela e mandou que fosse embora. E Agar foi embora, andando sem direção pelo deserto de Berseba. 15 Quando acabou a água do odre, ela deixou o menino debaixo de uma arvorezinha 16 e foi sentar-se a uns cem metros dali. Ela estava pensando: “Não suporto ver o meu filho morrer.” Ela ficou ali sentada, e o menino começou a chorar. 17 Deus ouviu o choro do menino; e, lá do céu, o Anjo de Deus chamou Agar e disse: — Por que é que você está preocupada, Agar? Não tenha medo, pois Deus ouviu o choro do menino aí onde ele está. 18 Vamos! Levante o menino e pegue-o pela mão. Eu farei dos seus descendentes uma grande nação. 19 Então Deus abriu os olhos de Agar, e ela viu um poço. Ela foi, encheu o odre de água e deu para Ismael beber. 20 Protegido por Deus, o menino cresceu. Ismael ficou morando no deserto de Parã e se tornou um bom atirador de flechas. 21 E a sua mãe arranjou uma mulher egípcia para ele.

 

Compreendendo a história de Agar

  1. Qual a nacionalidade de Agar? Que posição ela ocupava no núcleo familiar de Abraão e Sara?
  2. Agar já havia passado por uma série de abusos da parte de seus senhores no capítulo 16 de Gênesis, que a levaram a fugir. Agora ela é expulsa pelas mesmas pessoas que abusaram dela. O que levou Sara a expulsar Agar? Levando em consideração sua posição de escrava, o que Agar poderia fazer nessa situação? Como poderia manter a si mesma e ao seu filho?
  3. Qual foi a primeira reação de Abraão diante do pedido de Sara? Essa preocupação com a sobrevivência e bem-estar do filho se manifestou na prática? Reflita sobre quantas vezes você já tentou resolver paliativamente o problema de alguém, sem querer se envolver demais, só para tirar o peso da consciência. Seria essa a melhor maneira de agir?
  4. Segundo pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 5,5 milhões de crianças não tinham o nome do pai na certidão de nascimento em 2011 (sem contar os adultos). Abandono paterno é um problema estrutural e que atinge muitas mulheres grávidas, em especial as negras. Agar agora é uma mulher no deserto que carregava um odre, um filho e comida suficiente para alguns dias. Ela experimentava a solidão, “andando sem direção pelo deserto” como muitas mulheres negras no Brasil. Você tem enxergado essas mulheres no seu dia a dia?
  5. No meio da solidão, enxergando a morte iminente para ela e seu filho, qual é a reação de Agar? Como ela estava se sentindo naquele momento? Se fosse ela, você agiria de forma diferente?
  6. Na última vez que estivera no deserto fugindo dos abusos que sofria, “Agar deu ao Senhor este nome: ‘O Deus que Vê.’ Isso porque ele havia falado com ela, e ela havia perguntado a si mesma: ‘Será verdade que eu vi Aquele que Me Vê?’” (Gênesis 16:13). Ela também deu a seu filho o nome de Ismael, que significa “Deus ouve”. Como esse Deus que vê e ouve se manifesta no começo, meio e fim dessa narrativa? Você tem enxergado esses aspectos de Deus em sua vida? Tem ousado chorar diante dele?
  7. Qual é a promessa de Deus em relação a Agar que se repete duas vezes neste capítulo? Quais as semelhanças em relação à promessa de Deus a Abraão revelada em Gênesis 17:4, “Quanto a mim, eis que o meu pacto é contigo, e serás pai de muitas nações”. O que isso revela sobre essa matriarca? O que isso revela sobre Deus?

 

Agar está perto de nós

A história de Agar nos é familiar. Embora esteja em um contexto histórico diferente, Agar se comunica com muitas mulheres usadas por homens e abusadas por outras mulheres em status superiores.

Agar é a empregada fiel, explorada, mas “quase da família”. É a mulher abandonada com um recém-nascido, sem direito à saúde e moradia. É a mulher que enfrenta a solidão da mulher negra na falta de vínculos afetivos e familiares. Agar é a mulher negra hiperssexualizada, objetificada e reduzida a corpo, a escrava sexual. Ela é a mãe substituta que não vê o próprio filho crescer, a ama de leite.

Para além de tudo isso, a história de Agar tem muito a nos dizer sobre Deus. Ela conhece de perto o Deus que vê e ouve, que se relaciona com nossas dores, nos protege e promete coisas maravilhosas, mesmo quando não conseguimos nos mover.

Como nós, cristãos, temos respondido às Agares de nossa época?

Ore por essas mulheres negras que sofrem todos os dias com as violências estruturais do racismo no Brasil.

Que nós, mulheres negras, possamos encontrar em Deus descanso, abrigo e forças para continuar lutando contra as injustiças que atingem nossas irmãs. Amém.

 


Luciana Petersen é estudante de Comunicação Social – Jornalismo na UFSJ. É cristã, feminista negra, já pensou ser de exatas e agora é de confusas.


O conteúdo e as opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade de sua autora e não representa a posição de todas as organizadoras e colaboradoras do Projeto Redomas. O objetivo é criar um espaço de construção e diálogo.

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