Despertem, Déboras! | Débora

Texto base: Jz 4: 4 – 10; 12 – 24 e 5

Após a conquista da terra prometida, durante o período de estabelecimento no território, como descrito em Josué, as doze tribos ainda ficavam a mercê de filisteus e cananeus. A obtenção da terra por completo se daria só tempos depois, com Davi.

Durante este período de transição, e após a morte do líder Josué, é que aparecem os juízes e juízas. Chefes não instituídos oficialmente, mas que dispunham de forte personalidade e tinham a vida e os ouvidos atentos ao Espírito Santo. Além da administração da justiça, e da função de resolução de conflitos, exerciam o governo e a defesa das tribos, unindo-as contra os inimigos, quando necessário.

Neste contexto é que temos em Jz 4:4-10; 12-24 contato com a história da profetisa e juíza Débora.

Depois da morte de Aod [1], e após o povo tornar a fazer o que era mau diante dos olhos de Iahweh [2], este os entregou a Jabin, rei de Canaã, que reinava em Hasor. O chefe militar deste governo era Sísara.

Diante da situação de dominação, Débora, que exercia o poder de julgamento em Israel mandou chamar Barac e lhe relatou a profecia de triunfo sobre o exército de Jabin (Jz 4: 6,7). Barac, no entanto, imbuído de temor deixou claro que só assumiria os riscos do embate se Débora fosse com ele para a batalha. Ela prontamente aceitou a condição, contudo, reclamou para si a glória da batalha. Destacarei aqui três características de Débora durante este episódio que nos impulsionam a encarar nossas batalhas diárias.

OUSADIA

Irei, pois, contigo, porém, no caminho que seguires, a honra da vitória não será tua, porque é nas mãos de UMA MULHER que Iahweh entregará Sísara”. Jz. 4:9. (sem destaque, no original).

Consta do texto que o exército de Sísara era forte e grandioso. Contava com novecentos carros de ferro, e todas as tropas do território. Por outro lado, Débora iria a frente de um exército menor, mas, sabendo que a batalha seria preparada por Iahweh.

Além de não se intimidar com a situação e demonstrar coragem digna de uma guerreira treinada e consciente, ainda esbanjou ousadia, reclamando para si a glória em caso de vitória. É necessário salientar que já naquela época a desigualdade de gêneros era clara e o fato de um exército ser entregue a uma mulher, pelo SENHOR, era notório e merecia destaque.

Débora aceitou todo o peso de ser a responsável pela missão de guerra, mas, fez questão de deixar claro que além das adversidades normais que aquela situação trazia, ela tinha o diferencial de passar por isso sob a condição de mulher, se enchendo de ousadia e força, consciente da força e preparo divinos que lhe davam segurança para lutar.

CONFIANÇA

Quando Barac recebeu a profecia (Jz. 4: 6,7), demonstrou certa incredulidade, pois, apesar da afirmação – vinda de uma profetisa – de que Iahweh preparia o local e o momento em que lhe entregaria o chefe do exército adversário, este afirmou que só iria acompanhado.

Já para Débora, a certeza do cumprimento da promessa era clara desde o início, tanto que ela vai para a batalha certa da vitória (v. 9).

A certeza da vitória ante uma batalha daquelas proporções, que poderia representar o extermínio de um exército demonstra que seu coração estava intimamente ligado à Deus. A confiança que ela tinha era plena e lhe deu descanso e certeza de que Ele havia cuidado de tudo que poderia lhe causar medo, preocupação ou destruição.

JÚBILO

Como esperado, Sísara tem o exército derrotado, e foge sozinho da batalha, se abrigando na tenda de Jael, mulher de Héber, a qual de maneira astuta e perspicaz lhe ceifa a vida, após cravar-lhe uma estaca na têmpora. Assim, nas mãos de uma mulher consumou-se a vitória de Israel!

Débora e Barac, após a vitória celebraram a Iahweh, reconhecendo sua responsabilidade pela vitória. Há regozijo e poesia no canto de celebração, em que a própria Débora se lembra de celebrar:

Desperta, Débora, desperta!

Desperta, desperta, entoa um cântico!”. v. 12

Débora demonstrou gratidão, e reconheceu a necessidade de se alegrar em Deus! E além disso, o texto ainda informa que durante quarenta anos houve descanso para a terra.

Neste mês das mulheres, após sucessivos ataques aos avanços que com tanta luta tivemos ao longo dos séculos, e ridicularizações sobre nossa condição, temos em Débora inspiração para seguir com ousadia, coragem e sem perder a alegria.

Infelizmente neste “mês das mulheres” o cenário é de um grande exército forte e armado vindo em combate, mas, a nossa promessa de enfrentamento é a Verdade encarnada, que declara igualdade e reconciliação – “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus”. Gl. 3:28.

Como Débora, ainda não é possível que nos esqueçamos de como a qualidade de ser mulher afeta nossos passos, contudo, que também como ela depositemos nossa confiança em Deus, que nos reveste da coragem e força necessárias para seguir lutando.

Que nestes tempos de desafios endurecidos, de batalhas desafiadoras despertemos, assim como Débora, e sigamos com disposição, coragem e confiança, mas sem perder a alegria jamais!

[1] Eúde
[2] Iahweh – nome do Deus dos israelitas, comumente traduzido como SENHOR
[3] Barac – Baruque

Ana Flávia Vilela é advogada popular no interior do Paraná. Gosta de café feito na hora, abraço que dê pra morar dentro, e fim da sociedade capitalista. Não necessariamente nessa ordem.


O conteúdo e as opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade de sua autora e não representa a posição institucional da ABUB, outra instituição ou de todas as organizadoras e colaboradoras do Projeto Redomas. O objetivo é criar um espaço de construção e diálogo.

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