Ethel Waters

Esse texto foi originalmente publicado em outubro de 2018, pelo blog Santa Paciência, que gentilmente o cedeu para participar de nossa campanha de março de 2019. Agradecemos as organizadoras do blog por terem compartilhado esse texto maravilhoso e convidamos vocês para conhecer o Santa Paciência!


Foi uma importante cantora de blues, jazz e atriz nos Estados Unidos. Foi também uma cantora ativa durante as cruzadas de Billy Graham.

Ethel Waters nasceu dia 31 de outubro de 18961, em Chester, cidade localizada na Pensilvânia, Estados Unidos. Sua mãe, Louise Anderson, a teve com apenas 13 anos2 de idade, pois engravidou de Ethel sendo vítima de um estupro3. Sim, você leu certo: sua mãe foi vítima de um estupro e engravidou de Ethel neste contexto.

Após seu nascimento, sua mãe casou-se com Norman Howard, um trabalhador da estrada de ferro e Ethel usou seu sobrenome quando criança, mas já adulta adotou o nome de seu pai biológico.

Eu nunca fui uma criança

Ethel sempre se referiu a sua avó, Sarah, que morreu em 1914, como “Sally”. Durante a maior parte de sua infância, Ethel foi criada por Sally na Filadélfia: “Minha avó, sempre que podia, cuidava de mim porque minha mãe casou-se com o pai da minha irmã e minha avó, Sally Anderson, agarrou-se a mim. Ela trabalhou duro a vida toda. Ela trabalhava no serviço e tinha três meninas e um menino, e eles eram todos jovens e selvagens, e não havia ninguém para cuidar deles”.3

Ethel nasceu em um contexto de extrema pobreza e vulnerabilidade. Em sua autobiografia His Eye Is On The Sparrow: An Autobiography revela que raramente era mostrada a ela amor e afeição. Foi criada em um ambiente vicioso, e se descreve como uma verdadeira criança sem saída e líder de gangue. Para ganhar dinheiro quando criança, ela levava recados para cafetões e prostitutas – muitos dos pedidos eram para drogas. Ela também ganhou um dinheiro extra para vigiar a polícia.4

Seu pai, John Waters, nasceu em 1878, o que sugere que ele tinha mais ou menos a mesma idade que sua mãe, Louise, quando Ethel foi concebida. Ethel descreve-o como um playboy que trabalhou como pianista e foi assassinado (envenenado) em 1901 por uma amante ciumenta. Mas, uma de suas filhas deu uma versão diferente, para Deborah Montgomerie: “Ela diz que John foi assassinado, mas foi um erro trágico. John tocava piano em uma festa, em um bar ou clube, e alguém colocou uma bebida que continha veneno no piano para outra pessoa, mas John bebeu e morreu”.5

Aos 13 anos de idade, Ethel se casou com um homem abusivo e se divorciou dele no ano seguinte. Em seguida começou a trabalhar como camareira e a cantar em corais de igrejas e show de talentos, ganhando seu primeiro prêmio aos 15 anos de idade. Ela foi descoberta por dois produtores, em 1917, em um destes concursos. Passado dois anos, ela se tornou uma das primeiras cantoras afro-americanas a gravar no selo Black Swan Records. As gravações foram bem-sucedidas o que aumentou sua popularidade e fama.

Waters cantava em um estilo que a diferenciava de outros mestres do blues, como Bessie Smith e Ma Rainey. Sua abordagem era mais suave, sofisticada e lírica e, quando aplicava uma variedade de gêneros, do blues de Tin Pan Alley, envolvia um amplo espectro de públicos e aumentava sua popularidade. Ela antecipou certas técnicas de jazz, como “scat singing”, que se tornaria associada a mestres como Louis Armstrong e Ella Fitzgerald, e ela também influenciou cantoras como Billie Holiday, Sarah Vaughan e Sophie Tucker. Ela nunca aprendeu a ler uma partitura, mas lembrava-se de uma música depois de uma ou duas audiências; e sempre trouxe uma nova abordagem para cada performance.6

Até a década de 1930, Ethel gravou mais de 50 canções de sucesso e foi acompanhada por instrumentistas de jazz como Fletcher Henderson, Benny Carter e Coleman Hawkins. Gravando também com Jack Teagarden, Benny Goodman e Tommy Dorsey.

Essa mesma habilidade interpretativa permitiu que Waters mudasse de carreira, da música para o teatro musical. Apareceu em diversos musicais durante a década de 1920 e na década seguinte, principalmente no gênero ‘black music’. Waters tinha mais originalidade do que as características estereotipadas de canto e dança permitidos na época. E ela usaria sua fama e popularidade (tendo se tornado uma das artistas mais bem pagas nos EUA) para romper as restrições da forma musical e as presunções sobre os artistas afro-americanos.7

Em 1929, Ethel ganhava US $ 1.250 dólares por semana cantando e atuando no filme ‘On With the Show!’, da Warner Bros. Este sucesso de bilheteria foi filmado em cores e foi um dos primeiros ‘filmes falados’ – arrecadando US $ 2 milhões ao redor do mundo.8 Mais tarde, Ethel se tornou a segunda mulher negra indicada ao Oscar e a primeira atriz negra indicada ao Emmy.

Sua vida pessoal foi um grande emaranhado de relacionamentos. Foi casada por 3 vezes e se divorciou dos 3 casamentos. E sua falta de saúde trouxe a ela a aposentadoria profissional na década de 1960.

Em 1955, Ethel estava completamente endividada com impostos atrasados ​​e aproveitando somente dos royalties de seu trabalho. E um ponto de virada aconteceu quando ela participou de uma das cruzadas de Billy Graham, no Madison Square Garden, em Nova York, em 1957. Anos depois, ela deu este testemunho sobre aquela noite:

Em 1957, eu, Ethel Waters, era uma velha senhora decrépita de 380 libras e dediquei minha vida a Jesus Cristo. Eu te digo porque Ele vive; e porque meu precioso filho, Billy, me deu a oportunidade de ficar ali, posso agradecer a Deus pela chance de dizer a você que o olho dEle está em todos nós pardais* (referência ao nome da canção cantada por ela durante as cruzadas: His Eye Is On The Sparrow).9

Ela continuou em turnê com o evangelista Billy Graham até 1975 e veio a falecer na Califórnia em 1977, aos 81 anos de idade.

Quando eu estava na busca pelas mulheres para o calendário deste ano, 2018, o mês de outubro foi o último a ser preenchido. Foi difícil encontrar uma mulher nascida este mês – segundo o critério de nascimento que eu mesma havia colocado. Mas eu orava para que Deus me ajudasse a encontrar uma mulher para ser lembrada e homenageada por este projeto. E ao me deparar com a história de Ethel, não tive dúvidas: o calendário só estava me aguardando encontra-la.

Nestes dias escuros e tão complexos, no qual tentamos discutir e ‘estabelecer’ quando é que se inicia uma vida humana e qual delas ‘vale mais’, ao me deparar com a vida de Ethel me senti profundamente sensibilizada. Sua mãe foi uma vítima e uma sobrevivente dando à luz a uma menina em um contexto completamente vulnerável e aparentemente sem esperança. E conhecer sua história aumentou minha fé. Por mais que eu me esforce eu nunca saberei o quão difícil e dolorido foi para ela e sua mãe, assim como para tantas outras pessoas que nascem sob esta cruel, sofrida e estigmatizada circunstância. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Todos nós somos desejados e amados por Deus de um jeito maravilhosamente e assombrosamente inexplicável.

Tu criaste o íntimo do meu ser
e me teceste no ventre de minha mãe.
Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável.
Tuas obras são maravilhosas!
Digo isso com convicção.
Meus ossos não estavam escondidos de ti
quando em secreto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram o meu embrião;
todos os dias determinados para mim
foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.
Como são preciosos para mim os teus pensamentos, ó Deus!
Como é grande a soma deles!

Salmo 139:13–17 [Versão NVI]

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NOTAS:
1Algumas fontes declaram que seu nascimento tenha sido em 1900, e não em 1896.

2Algumas fontes declaram que sua mãe seria um pouco mais velha do que 13 anos.

3Trecho retirado do livro Ethel Waters: Stormy Weather, escrito por Stephen Bourne, Capítulo 1 – I never was a child, p 2 – tradução livre

4Trecho retirado do livro Ethel Waters: Stormy Weather, escrito por Stephen Bourne, Capítulo 1 – I never was a child, p 3 – tradução livre

5Trecho retirado do livro Ethel Waters: Stormy Weather, escrito por Stephen Bourne, Capítulo 1 – I never was a child, p 2 – tradução livre

6Trecho retirado do site Black History Now – Black History Biographies from the Black Heritage Commemorative Society. Disponível em: <http://blackhistorynow.com/ethel-waters>. Acessado em 27/09/2018 – tradução livre.

7Trecho retirado do site Black History Now – Black History Biographies from the Black Heritage Commemorative Society. Disponível em: <http://blackhistorynow.com/ethel-waters>. Acessado em 27/09/2018 – tradução livre.

8Trecho retirado do site Christian Index – Ethel Waters: The Sparrow that Soared, escrito por Ron F. Hale. Disponível em: <https://christianindex.org/ethel-waters-sparrow-soared/#>. Acessado em 27/09/2018 – tradução livre.

9Trecho retirado do site Christian Index – Ethel Waters: The Sparrow that Soared, escrito por Ron F. Hale. Disponível em: <https://christianindex.org/ethel-waters-sparrow-soared/#>. Acessado em 27/09/2018 – tradução livre.

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A Série Mulheres Inspiradoras tem como objetivo celebrar a história de mulheres cristãs que imprimiram sua marca no mundo através da arte, música, literatura, justiça social, teologia, ciências e/ou outras esferas que compreendem o nosso bem viver. Para nos inspirar e impulsionar a deixarmos também o nosso legado no mundo, devolvendo ao Criador o que Ele nos confiou.


Sou Carolina Selles apaixonada por cores, histórias e sabores. Sou designer, graduada em Arte & Tecnologia e uma das idealizadoras do Santa Paciência.


 

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