Feminismo x Marketing do Mal

O  feminismo me atrapalha. Esse termo tem me fechado, muitas vezes, boas e necessárias portas de diálogo. Não por ser algo essencialmente ruim ou maléfico, mas além do fato de um profundo desconhecimento por parte de muitos, existem dois motivos: primeiro, o mal tem um marketing melhor do que o bem; segundo, o feminismo é multifacetado.

Como esses dois motivos se relacionam? Eu lhes digo agora.  Que o marketing do mal é demasiadamente esmagador em relação ao bem, não é novidade. A mídia nos mostra isso todos os dias, basta ligar a sua televisão no jornal “você sabe qual” e averiguar. Nós cristãos sabemos muito bem disso, pois é o culto da igreja “você sabe qual”, transmitido em rede nacional, que infelizmente representa a cristandade brasileira para grande parte da sociedade. Enquanto isso a igreja verdadeiramente cristã – representante do amor de Deus pela humanidade, propagadora do evangelho em sua integralidade, e manifestante do reino de paz, justiça e alegria –  é mantida em segredo.

Assim acontece com o feminismo. Em todo movimento social existem diferentes vertentes de pensamento, e no movimento feminista não é diferente, isso é o que quero dizer quando o caracterizo como multifacetado. De fato existe uma face nesse movimento que denomino de pseudo-feminismo, mas que é também conhecida como misandria ou femismo. Essa faceta enxertada ao movimento é constantemente e erroneamente confundida com o feminismo verdadeiro, pois é assim que a mídia manipuladora desonestamente o denomina. Essa vertente extravagantemente disseminada nas redes sociais, internet e mídias em geral, é fruto de um sentimento amargo de revolta que vitimiza o coração de mulheres que se perderam no meio da luta, e não mais manifestam um desejo de justiça, integralidade e libertação de mulheres e homens, como o verdadeiro feminismo propõe.

O marketing midiático por exemplo não se empenha em favor do feminismo negro na África em que inúmeras crianças do sexo feminino são libertas de casamentos com homens absurdamente mais velhos; ou em favor dos grupos feministas que acolhem e apoiam mulheres violentadas, todo os dias. Esse feminismo a emissora “você sabe qual” não mostra.

O feminismo, como muitos pensam, não quer simplesmente integrar as mulheres no sistema patriarcal e capitalista que faz de nós apenas objetos, também não é uma luta para serem como os homens (sim, existe um “achismo” que se fundamenta nisso). Antes, deseja desconstruir a percepção machista de feminilidade como fraqueza, e construir uma nova consciência em que ela seja percebida como uma virtude, que pode até expressar um ar de delicadeza, mas que está longe de ser uma debilidade ou de excluir a força e o poder que reside no feminino. Assim, o feminismo deseja devolver à mulher a possibilidade de ser de fato e plenamente Mulher.

É importante compreender que a luta contra o machismo não é apenas das mulheres, mas também de todos os homens. Como afirmou a grande e inspiradora escritora Rose Marie Muraro, “a crise do masculino hoje reside exatamente na dificuldade que o homem tem de integrar em si o feminino, recalcado por anos”.  A luta pela valorização do ser feminino, é parte de uma luta maior, a luta da libertação universal da sociedade e pelo resgate de nossa verdadeira humanidade, isso só é possível se homens e mulheres, juntos e numa cooperação igualitária, se libertarem. “Somos todos masculinos e femininos”.

Assim, na nossa luta rumo à integralidade, precisamos ter sempre em mente o que nos instruiu o Apóstolo Paulo, devemos ser humildes e dóceis, sendo pacientes e suportando uns aos outros com amor, e preservando a sociedade pelo vínculo da paz.

Como mulher e cristã, portanto, contra todo e qualquer tipo de opressão à mulher, acredito profundamente que toda a nossa luta deve acontecer mediante o amor. Ela não é violenta, mas resistente e intolerante a toda e qualquer violência contra a dignidade da mulher. Nisso consiste o feminismo verdadeiro, que pode até ser absconso pela desonestidade midiática da oposição,  mas que permanece vivo, resistente e efetivo.


Gabriela Ribeiro é mineira, mas mora em São Paulo há três anos; tem 21 anos; é estudante residente  de teologia na FLAM – Faculdade Latino Americana; professora voluntária na ONG Makanudos de Javeh;  e poeta em tempo integral, mas só escreve nas horas vagas.


O conteúdo e as opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade de sua autora e não representa a posição institucional da ABUB, outra instituição ou de todas as organizadoras e colaboradoras do Projeto Redomas. O objetivo é criar um espaço de construção e diálogo.

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