O essencial é invisível aos olhos

Sou gorda. Nasci em Petrópolis – RJ, mas moro, atualmente, na capital do Piauí – Teresina – no Nordeste do país, onde grande parte da população é magra. Pense nas situações mais preconceituosas que eu já passei aqui. Desde os meus 06 anos de idade sempre fui a maior da minha turma de escola e sempre sofri preconceito pelo(a)s coleguinhas. Pessoas que nunca conversaram comigo, se achavam no direito em me xingar de: “rolha de poço”, “baleia”, “saco de areia”. Crianças olham pra mim com espanto por eu ser “grandona”. Homens me olham e fazem cara de nojo. Pessoas “caridosas” me param na rua pra me dar dicas de emagrecimento “rápido” e “saudável”. Passo perto de pessoas, e algumas, começam a rir “do nada”. Enfim… Tive e tenho motivos, de sobra, pra ser a pessoa mais complexada e revoltada nessa questão.

Mas enfim. Continuando…

Sou estudante do curso de História (amo escutar histórias e gosto de saber o que cada grupo de pessoas pensava e discutia em um determinado tempo e espaço). Certa vez eu comecei a me perguntar: “Por que as gordas são tão estigmatizadas”? Como isso passou a acontecer? Existe padrão de beleza? Por que ser magro é algo tão desejado? Por que me dizem, tanto, que tenho que emagrecer? Qual o meu problema? Ser gorda é um problema? Por que não me sinto feliz? As perguntas começaram a crescer. Essas questões mexeram comigo e por conta da minha própria história de vida, do meu gosto pela história em si, comecei a estudar ideais estéticos ao longo história humana[2].

Lendo livros de história, filosofia e psicologia sobre o assunto, descobri que “padrões de beleza” sempre existiram e ouso afirmar que sempre existirá, sempre houve pessoas dentro e fora de um padrão, seja ele estético, comportamental, etc. Após dessas leituras e análises, eu reconheci: “Estou fora do padrão estético humano atual”. E isso mexeu tanto comigo, olhei-me no espelho e chorei. Pensei: “Será que não tenho um namorado por ser gorda? Será que tenho poucos amigos de verdade porque sou gorda? Será que…?”

A tristeza bateu, e com o passar do tempo ela se tornou um grande peso em mim. Maior que eu poderia suportar; havia adquirido depressão. Larguei meus empregos. Tinha desistido dos estudos universitários. Afastei-me de tudo o que mais amava. Pensei em suicídio. Havia desistido de viver. Chorava muito. Dentro do meu quarto, pedia para Deus que Ele tirasse essa dor, tão pesada, de mim.

[E ELE TIROU. E ELE TEM TIRADO].

Deus me fez lembrar um texto bíblico que me deu vida novamente. De fato, a Palavra de Deus é viva e eficaz!

Mas o Eterno disse a Samuel: “Não olhe para o exterior. Não fique impressionado com sua aparência e estatura. Eu já descartei esse (Eliabe, irmão mais velho de Davi). O Eterno não julga as pessoas pelos padrões humanos. Os homens e as mulheres olham para a aparência, mas o Eterno vê o coração”. (I Samuel 16: 7)

Deus falou tremendamente comigo através desse versículo. Eu entendi! A ótica de Deus é diferente. Deus vê o essencial, “O essencial (que) é invisível aos olhos”. Ele viu meu coração, meus questionamentos, minha história, minhas dores, e mesmo assim, Ele me amou. Ajudou-me a sair do “fundo do poço”, me devolveu a vida, a felicidade! Me disse que o que importa é o que ELE DIZ AO MEU RESPEITO, O QUE ELE VÊ NO MEU CORAÇÃO.

Mais uma vez me olhei no espelho… Reconheci que, de fato, não estou no padrão de beleza humano. Beleza, essa, que vê o exterior e que logo acaba. Mas a beleza interior, real e essencial é eterna, que só quem vê é Deus! Eu não posso mudar o padrão estético humano. Mas eu posso mudar o meu coração para o padrão de DEUS.

Hoje eu me vejo bela. Porque Deus me vê assim. Porque Ele me impulsiona a cultivar a beleza interior que não acaba:

O que importa não é a aparência exterior – o estilo de cabelo, as jóias, o corte da roupa -, mas sim sua atitude interior. Cultivem a beleza interior, do tipo gracioso e gentil que agrada a Deus (I Pedro 3:3-4).

Para finalizar, quero convidar a você querida leitora, a tirar o peso (da ditadura da beleza humana) das suas costas. As pessoas veem em nós aquilo que querem ver, mas você pode mudar a sua forma de se ver. TUDO MUDA QUANDO VOCÊ MUDA. Deus quer que você se veja como Ele te vê, porque sabe, realmente, quem tu és, por dentro, e por isso Ele resolveu te amar!

[1] Essa é uma das frases mais conhecidas da célebre obra de Exupéry – O Pequeno Príncipe
[2] Recomendo a leitura de História da Beleza, organizado por de Umberto Eco e História da Beleza no Brasil de Denise Bernuzzi de Sant’Anna.

Luiza Souza, filha amada do Eterno. MPCista. Petropolitana de sangue e Piauiense de coração. Estudante de História. Gorda, parda e feliz!


O conteúdo e as opiniões expressas neste texto são de inteira responsabilidade de sua autora e não representa a posição institucional da ABUB, outra instituição ou de todas as organizadoras e colaboradoras do Projeto Redomas. O objetivo é criar um espaço de construção e diálogo.

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