Ser mulher, cristã e artista

“Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.” (2 Co 10:3-5)

“Como o leitor sabe, eu percebera muito antes que não devia confiar na percepção para dirigir meu uso, mas nunca me dera conta por inteiro do que isso significava – a experiência sensorial associada ao novo uso seria tão estranha e, por conseguinte, “daria a sensação” de ser tão antinatural e errada que eu, como qualquer outra pessoa, com meu hábito entranhado de julgar se as experiências de uso eram “certas” ou “erradas” conforme a sensação por elas produzidas, inevitavelmente não conseguiria empregar o novo uso. Obviamente, qualquer novo uso deve transmitir sensações diferentes das do antigo, e, se ao antigo parecia certo, o novo só pode parecer errado, e, ao mesmo tempo, guiara-me pela sensação do que me parecia certo para saber se eu estava empregando ou não o novo uso.. Isso significa que todos os meus esforços até então se haviam resumido a tentar dirigir racionalmente o meu uso no momento de falar, ao mesmo tempo em que colocava em ação o uso habitual e, portanto, voltava à direção instintiva e errada. Não é de admirar que essa tentativa tivesse sido vã!” (F.M. Alexander, em ‘O Uso de Si Mesmo’)

Desde que soube que haveria a possibilidade de falar a respeito de ser mulher, cristã e artista um bocado de sentimentos tomou conta de mim. Pra ser sincera, a princípio supus que não haveria problemas, uma vez que é isto o que eu sou: cristã, mulher e artista.  Mas ao tentar esboçar este texto, as ideias vieram confusas. Eu não sabia ao certo como tudo se encaixa, a não ser na minha vivência prática. Esta é a minha vida, e o que sou, e na verdade explicar o que fazemos todo dia não é tão imediato e fácil! (Tire uns segundos para tentar explicar como suas decisões se conectam e vai entender um pouquinho do meu drama…..)

No entanto, como sempre, Deus sabia o que estava fazendo, e Sua Graça novamente se manifestou a mim. Desta vez por uma trama de acontecimentos aparentemente desconexos ….

(Uma pausa para constatar que Deus é um verdadeiro Artista! Já pensou quanta criatividade atravessa Seu Ser e chega a nós todos os dias?)

Pois bem, aí vão os tais acontecimentos:

  1. Pedi ao meu marido que retirasse na biblioteca da faculdade alguns livros para a execução do meu projeto de mestrado. Ele trouxe quantos podia (4 pra ser mais exata);
  2. Escolhi um destes livros para começar a trabalhar, que acabou sendo o livro citado no começo deste texto;
  3. Minha irmã comentou comigo tão veementemente a respeito de um livro que ela tinha gostado que resolvi pedir emprestado. É um livro cristão, da Lysa TerKeurt (“Emoções sobre Controle”).

Curiosamente, todos eles falam sobre o distanciamento consciente das nossas emoções imediatas visando algo maior: para um artista, quanto mais trabalho e mais profundidade no processo, mais distanciamento se faz necessário. Embora pensemos que o artista corresponde sempre àquele ideal romântico, de entrega absoluta e inconsequente ao seu ideal, a realidade é que para aguentar fazer arte todos os dias é necessário respirar fundo, ouvir a si próprio e aos outros, conseguir olhar para si mesmo e para o seu trabalho de forma crítica, honesta e vívida. Não é possível viver constantemente em queda livre, mergulhos e vôos.

Quando digo ‘distanciamento’ aqui não me refiro ao descolar-se das sensações. Mas sim que é necessário não depender do sentimento, do frio na barriga pra prosseguir. E ainda, não entender que o ponto de partida para fazer arte está na maneira como me sinto. Para um artista que paga seu aluguel, água e luz a arte não pode depender do sentimento, que não acontece todo o dia. É preciso uma decisão de fazer, a despeito de como eu me sinta.

Concluo, então, que aí está a minha teia: na vida cristã, ‘levar cativo todo o pensamento’ precisa ser um exercício. Uma decisão. Porque nem sempre me sentirei inclinada a orar, ler a Palavra e me deixar ser moldada, corrigida. Nem sempre me permitirei a vulnerabilidade e sinceridade necessárias para perceber e viver o Amor do Pai. No entanto, eu preciso dEle. Todos os dias. Não posso depender de algo instável para me dirigir ao Trono de Sua Graça. O que me fará desejar a Sua Voz é a minha obediência a despeito de como eu me sinta, e Seu Amor que todos os dias me chama.

E Seu Espírito nos ajuda. Ele há de moldar as nossas sensações e pensamentos, se continuarmos obedientemente a fazer cativa a forma como nos sentimos naquele dia e simplesmente nos colocarmos diante dEle. E nosso Pai fará o resto. De maneira criativa, linda e nova. Um verdadeiro Artista.

 


Esther Alves é cristã,  instrumentista, cantora e escritora. Casada e dona de dois cachorros lindos e impossíveis. Fã inverterada de tapioca, pizza, passeios de bicicleta e cinema em casa. Aspirante à blogueira e na luta por se tornar organizada, entre outros.

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