TranscriçãoRedomascast 26 – Madame Guyon #OPodcastÉDelas2019

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Sejam bem vindas e bem vindos a mais um Redomascast, eu sou Bianca Rati e esse é um dos episódios especiais do mês da mulher, no Projeto Redomas. Esse programa é no formato de contação de história e eu recomendo que você utilize um fone de ouvido para perceber melhor os efeitos sonoros. Se você gostar desse programa, compartilhe em suas redes sociais, com as amigas e amigos e com a sua família. Considere também contribuir financeiramente com o Projeto Redomas no Catarse, nossa plataforma de financiamento coletivo. A partir de 5 reais você nos ajuda a pagar os custos de manutenção do site e do podcast. O link pra nos ajudar está na descrição desse episódio e na aba APOIE do nosso site.

Hoje vamos contar a história de Madame Guyon, uma mística francesa do século XVII que descobriu um jeito mais profundo de se relacionar com Deus, por meio da oração e da contemplação. A história dela, apesar de ser bem melhor registrada do que a de várias mulheres, ainda é difícil de ser pesquisada em fontes confiáveis, o que pode acarretar em algumas desinformações ou dados imprecisos, como a própria data de nascimento, por exemplo. Por isso, nesse podcast, eu escolhi trazer vários trechos da autobiografia de Madame Guyon pois é onde encontram-se mais informações ou fatos sobre a sua vida e principalmente, o que ela estava pensando nesses momentos.

França, século XVII, um império em tom pastel na Europa, duzentos anos após a Reforma Protestante. As vaidades, o luxo e as festas preenchiam a vida da nobreza e da burguesia ascendente. No auge do absolutismo, Luís XIV, chamava-se de Rei Sol e defendia uma centralização do poder baseada na crença do direito divino do rei. Ele reformou o Pálacio de Versalhes e convidou vários nobres para viver lá, cobrando da população altos impostos para sustentar sua corte suntuosa.

A Igreja Católica e o Estado estavam unidos. A Igreja queria manter sua influência política fragilizada após os protestantes terem questionado o culto à imagens, o luxo excessivo e a corrupção no clero. E o Estado absolutista queria consolidar seus valores e o poder na nobreza. Neste cenário, a arte barroca despontava com movimento de contrarreforma nos países católicos, exaltando a grandiosidade e soberania dessas nações. É neste contexto que se passa a história de Jeanne Marie Bouvier de la Motte Guyon.

Uma menina muito religiosa desde cedo e também muito doente, essa era Jeanne, que nasceu em 13 de abril 1648, num vilarejo chamado Montagis. Apesar de ter pais muito ricos, ela se mudou 9 vezes em 10 anos, passando por diversos conventos e intercalando com a casa de seus pais. Eles bem relacionados na corte francesa e muito religiosos. Mas, quando Jeanne pediu para se tornar freira, seu desejo foi negado pelo seu pai.

Com o tempo, Jeanne foi crescendo e se tornando uma adolescente muito bonita. Numa viagem à Paris, encantou-se pela pompa e circunstância da corte do Rei Sol. Em sua autobiografia, ela que conta que, era bonita, muito vaidosa e se sentia muito atraída por essa vida de ostentação e frivolidades que havia em Paris. Com apenas 15 anos seu pai a arranjou em casamento, com um homem rico chamado Jacques Guyon, que tinha 38 anos. Ela passou a cerimonia toda chorando, lembrando-se que seu desejo mais sincero era de se tornar freira, mas isso havia sido negado.

A mãe de Jacques Guyon era uma mulher autoritária e rude, que tornava a vida de Jeanne, recém casada, bastante complicada. Ela estava acostumada com um estilo de vida muito confortável na casa de seus pais e, apesar de seu marido ser rico, ele e a mãe viviam de maneira mais econômica. A sua sogra à perseguia e até mesmo seu marido questionava seu jeito de ser.

“Eu fiquei muito surpresa, quando vi que precisava perder o que aprendi com tanta aplicação. Na casa de meu pai, fomos obrigados a nos comportar de maneira gentil e a falar com propriedade. Tudo o que eu dizia era aplaudido. Aqui, eles nunca me deram ouvidos, mas me contradizem e encontram falhas. Se eu falei bem, eles dizem que era para lhes dar uma lição. Se meu pai fazia alguma pergunta, ele me incentivava a falar livremente. Aqui, se eu falar meus sentimentos, eles me diziam que era para entrar em uma disputa. Eles me fizeram calar de uma maneira abrupta e vergonhosa, e me repreendiam desde a manhã até a noite.”

Apesar de se sentir a triste e frustrada pela situação que se encontrava, ela logo engravidou, tendo um filhinho e encontrando alegria e amor em cuidar dele. Porém, as aflições de Madame Guyon estavam apenas para começar: seu marido perdeu parte da fortuna e um ano depois ela ficou gravemente doente. Nesse mesmo ano, Jeanne perdeu sua mãe e meia-irmã. Essas lutas fizeram com que ela se aproximasse de Deus, nesse período ela começou a se dedicar a leituras de Francisco de Sales e Thomas Kempis ambos monges que falavam muito a respeito da vida com Deus por meio da comunhão, caridade e oração. Procurando vencer a vaidade, Jeanne diz que até as humilhações que sofreu nos primeiros anos de casamento a ensinaram a lidar com o orgulho.

Em 1667, ela teve seu segundo filho. Sua vida havia se tornado a rotina de uma mãe e mulher piedosa. Nesse tempo, Madame Guyon utilizava seus recursos para ajudar os pobres e necessitados, além de se dedicar à oração. As pessoas estranhavam muito que uma jovem fosse tão dedicada a Deus. Já em 1669, ela dá a luz a uma menina, ao todo teve 5 filhos.

Mesmo em sua autobiografia, ela não esconde seus altos e baixos na fé e apesar dessa intensidade com Deus, ela se perde na rotina, nas preocupações com a casa, os filhos e as exigências da sociedade. Ainda batalhando com a vaidade e as dificuldades, é com a ajuda de sua amiga Genevieve Grainger, uma freira beneditina, e leituras que fazia, que Jeanne vai estudando e se reaproximando de Deus.

Mon vœu le plus sincère est de peindre en couleurs vraies la bonté de Dieu pour moi et la profondeur de ma propre ingratitude. / Meu desejo sincero é pintar, em tons verdadeiros, a bondade de Deus para mim e a profundidade da minha própria ingratidão.

No século XVII as doenças mais simples para nós eram grandes problemas para as pessoas. E em 1670, Madame Guyon é atingida pela varíola, uma doença que começa muito semelhante a uma gripe, mas evoluí trazendo dores musculares e gástricas. Sua fase final é a formação de feridas e bolhas na pele, que deixam cicatrizes. Na época de Jeanne a varíola poderia levar à cegueira e até mesmo a morte, hoje é considerada erradicada, graças a vacinação.

As marcas deixadas pela doença foram responsáveis por acabar com a beleza tão preciosa de Jeanne. Mas ao contrário do que você pode esperar, ela passou por tudo isso com uma satisfação radical, que para muitos de nós, é bastante difícil de entender. Sobre isso, ela disse:

“Minha alma foi mantida em um estado de satisfação, maior do que pode ser expresso. Lembrando-me continuamente de uma das causas de minhas provações e quedas religiosas, entreguei-me à esperança de obter minha liberdade interior pela perda daquela beleza externa que fora minha dor. Essa visão de minha condição tornou minha alma tão satisfeita e tão unida a Deus, que não teria trocado a minha condição, pela vida do mais feliz príncipe do mundo.”

Poém, Madame Guyon ainda iria viver mais dores, pois logo após se recuperar da varíola, seu filho caçula faleceu. E ela se viu como Jó, e aprendeu com ele.

Em 1672, ela perde sua filhinha de 3 anos, sua melhor amiga, Genevieve, e seu pai, a quem amava muito. 4 anos mais tarde, Jeanne também perde o marido.

Desde antes de perder seu marido, Jeanne começou a se ver em meio a um estado de depressão e cansaço. Conforme as dores se acumulavam, mais ela não sentia alegria em suas atividades, e tudo ia perdendo o sentido.

“Eu já não conseguia mais orar como antigamente. O céu parecia fechado para mim. Não consegui consolo nem fiz queixas. Eu não conseguia mais praticar qualquer boa ação com facilidade. “Ai!” disse eu, “é possível que este coração, antes todo em chamas, se torne agora como gelo!” Carregado com um peso de pecados passados, e uma infinidade de novos, eu não conseguia imaginar que Deus me perdoaria, mas olhava para mim como uma vítima fadada ao inferno. Eu teria ficado feliz em fazer penitências, fazer uso de orações, peregrinações e votos. Mas ainda assim, tudo o que tentei como remédio só pareceu aumentar a doença. Eu posso dizer que lágrimas eram minha bebida, e a tristeza minha comida. Senti em mim mesma uma dor que nunca pude compreender, mas que a experimentei. Eu tinha dentro de mim um carrasco que me torturou sem descanso. Mesmo quando fui à igreja, não foi fácil estar lá. […]”

Jeanne viveu sete anos se sentindo deprimida e cansada. Foi mais ou menos nessa época que ela começou a se corresponder com padre La Combe, ele mostrou a ela que Deus não a havia abandonado, como muitas vezes ela foi tentada a acreditar. Por meio dessas conversas, entendeu a salvação pela Graça e não pelas obras, que as bençãos de Deus são frutos de Sua vontade e não de nossos méritos. Ela começou a se sentir mais revigorada através das palavras do amigo.

No dia 22 de julho de 1680, naquele dia feliz, minha alma foi liberta de todas as suas dores. Desde a primeira carta do Padre La Combe, comecei a recuperar uma nova vida. Não estava mais deprimida, não mais carregada sob o peso da tristeza. Eu pensava que havia perdido Deus para sempre; mas eu o encontrei novamente. E Ele voltou-se para mim com magnificência e pureza indescritíveis. De uma maneira maravilhosa, difícil de explicar, tudo o que havia sido tirado de mim, não só foi restaurado, mas restaurado com aumento e novas vantagens. Em Ti, ó meu Deus, eu encontrei tudo, e mais do que tudo. A paz que eu possuía agora era toda santa, celestial, inexprimível. Essa verdadeira paz de espírito valeu a pena tudo o que eu havia passado, embora estivesse apenas amanhecendo.

Madame Guyon vai a Genebra para iniciar um projeto novo com a igreja católica local, mas logo começa a ser perseguida pelos seus ideais à respeito da oração e do silêncio. De volta à França, em 1685 ela publica o seu mais famoso livro “Um método de oração curto e simples”, onde ela fala de uma oração iniciada pela meditação, sobre isso, ela diz:

Quando por um ato de fé viva, você se coloca na presença de Deus, leia alguma verdade substancial, faça uma pequena pausa, não para empregar a razão, mas para fixar a mente; o principal exercício é sempre a presença de Deus; o assunto, portanto, serve mais para aquietar a mente, do que movimentá-la com o raciocínio.
Permita que uma fé vivificante em Deus imediatamente presente no mais interior de nossas almas, produza um ávido mergulhar dentro de nós, restringindo todos os sentidos devagar: isso serve, em primeira instância, para nos desprender de numerosas distrações, nos afastar de assuntos externos e nos trazer para perto de Deus.

Por causa de crenças e falas como essas, Madame Guyon foi associada a um movimento religioso muito famoso na Europa do século XVII, o Quietismo. Esse movimento acreditava na relação com Deus baseada na morte para si mesmo, para que então, a pessoa pudesse ser enchida pelo Espírito Santo por meio meio da contemplação. A ideia principal era acalmar a alma, desprender-se da vontade de racionalizar e agir, deixando Deus fazer todo o trabalho. Alguns interpretam que essa passividade poderia isentar os cristãos de suas responsabilidades e da vida em comunidade.

Mas de fato, Madame Guyon nunca se declarou pertencente ao Quietismo. Podemos pensar alguns motivos que poderiam levar as lideranças religiosas se incomodarem com a popularidade de suas palavras.

O primeiro motivo era justamente esse, ser popular, acessível. Guyon defendia que seu método de oração era para todos e não apenas para os eruditos do clero ou nobreza. Outro ponto é o constante confronto da proposta de estilo de vida dela, em comparação com o que estava em alta na época: abnegação versus o luxo, a vaidade versus a morte das vaidades. A proposta de encontrar Deus na contemplação era assustadora para uma Igreja e um Estado que utilizavam a religião para controlar as pessoas.

Então, o Rei Luis XIV manda prender Jeanne.
Primeiro num convento, onde ela passa oito meses sofrendo com o ar pesado da cela e com uma tentativa de envenenamento. Após ser libertada pelos seus amigos, seus escritos começam a ficar cada vez mais famosos pelo país.

Por causa disso, ela é presa novamente em 1695 e transferida em 1698 para a famosa prisão francesa, a Bastilha. Durante 8 anos de prisão Madame Guyon escreveu muito. Sua obra é vasta e ela também é autora de diversos poemas e hinos.
O poema que você vai ouvir agora é o mais famoso de Madame Guyon. Ele foi composto durante seu tempo na Bastilha e sua tradução para o inglês, feita pelo poeta Cowper, deu origem ao hino I am a little bird, que é a trilha sonora nesse momento.

Trecho do poema: GRAND DIEU, POUR TON PLAISIR
GRANDE DEUS, PARA O SEU PLAZER

Grand Dieu, pour ton plaisir
Je suis dans une cage;
Ecoute mon ramage;
C’est-là mon seul désir:
J’aime mon esclavage,
Grand Dieu, pour ton plaisir.
Grande Deus, para o seu prazer
Eu estou em uma gaiola;
Ouça minha música;
Este é meu único desejo:
Eu amo minha prisão
Grande Deus, para o seu prazer.

Je vis en liberté,
Quoique dans l’esclavage:
L’Amour Pur met au large
Le cœur, la volonté:
Dans ma petite cage
Je vis en liberté.
Eu moro na liberdade
Embora esteja na prisão:
O amor puro adia
O coração, a vontade:
Na minha pequena gaiola
Eu vivo em liberdade.

Divine volonté,
Que J’adore et que j’aime!
Plus ma peine est extréme,
Plus j’ai de liberté.
Tous biens sont en toi-méme,
Divine volonté.
Vontade divina
Que eu adoro e que amo!
Quanto mais minha sentença é extrema,
Mais tenho liberdade.
Todos os bens estão em Ti
Na vontade divina. […]

Banida para Blois em 1702, Jeanne dedica seus últimos anos à serviço de Cristo e morre em 1717, aos 69 anos.
O legado Madame Guyon é gigantesco. Apesar de pouco mencionada em nossas igrejas e seminários, seus ensinamentos influenciaram diversas pessoas como os Quackers, o movimento Pietista, Watchman Nee e John Wesley, além dos movimentos pentecostais nas Américas.

Num momento de fusão entre o Estado e a Igreja, de corrupção e de vaidade, Madame Guyon se tornou voz num período em que a liberdade de expressão era censurada. Não há dúvidas da relevância de figuras como Jeanne para que possamos hoje entender a importância da liberdade de expressão e de um estado laico. Ela registrou seus pensamentos e experiências, ocupando assim, espaços que são tipicamente masculinos até hoje, de formação de teoria e retórica a respeito da fé cristã.

Jeanne é categorizada como uma mística, um termo que pode ter um sentido diferente para nós brasileiros, mas que basicamente, quer dizer que ela experimentava um relacionamento com Deus que é sobrenatural, que se dá pelo meio do inexplicável, que nem sempre é possível de ser completamente compreendido. A vida e obra de Madame Guyon são um convite e também um desafio para vivermos uma espiritualidade voltada ao esvasiamento de nós mesmos, para que possamos ser transformados pelo amor de Deus.

Além disso, seus ensinamentos nos servem como inspiração de alguém que encontrou paz por meio do seu relacionamento com Deus. Madame Guyon se rendeu radicalmente à vontade divina e desvencilhou-se das amarras da sociedade para viver aquilo que acreditava.

L’ ME AMANTE QUI NE RESPIRE QU’AMOUR
A ALMA AMOR QUE RESPIRA SOMENTE AMOR

Je ne saurais parler, sans parler de l’amour ;
J’aime mieux garder le silence :
Heureuse de perdre le jour,
En vivant sous sa dépendance.
Eu não posso falar, sem falar de amor;
Eu prefiro ficar quieta:
feliz por perder o dia,
vivendo sob Seu controle.

On me dit que d’amour je parle à tout moment ;
On m’en fait souvent le reproche :
Je trouve mon contentement
D’en entretenir qui m’approche.
Me disseram que de amor eu falo a qualquer momento
Eu sou freqüentemente reprovada por isso:
Eu encontro contentamento
Para falar com qualquer um que se aproxime de mim.

Mon plaisir est l’amour: je veux sans fin chanter
Et mon bonheur et sa louange:
L’amour peut seul me contenter:
Sans l’amour que tout m’est étrange!
Meu prazer é amor: quero cantar sem parar
E minha felicidade e louvor:
Só o amor pode me satisfazer:
Sem o amor que tudo é estranho para mim!

Agradecimentos especiais: a meu pai, Claudio Rati, por ter me contado sobre Madame Guyon, o que me fez despertar o interesse por ela. Agradeço também a Cristina Alves e Júlia Werner, responsáveis pelas leituras em francês que vocês puderam apreciar no programa. A maioria das citações usadas neste programa foram traduzidas do Francês ou do Inglês por mim e com a ajuda de algumas pessoas, eu também adaptei a linguagem para ficar um pouco mais fácil de compreender. Acho importante informar isso pois a tradução é uma atividade complexa e entendo que podem ocorrer perdas ou mudança de sentido em algumas frases.

Caso você deseje ver as referências usadas nesse episódio, bem como ele todo transcrito com citações originais e traduções, é só acessar o site projetoredomas.com.

Muito obrigada por ter ouvido até aqui e até o próximo redomascast!

 


Referências

Women of Christianity: Biography of Madame Guyon

Poema: L’âme amante qui ne respire qu’amour

Poema: Grand Dieu, pour ton plaisir

Jeanne Marie Bouvier de la Motte Guyon: Quotes

Wikipedia: Jeanne Guyon

Livro: Autobiogafia de Madame Guyon (Madame Guyon)

Livro: Nas profundezas com Cristo (Madame Guyon)

Livro: Um metodo de oração curto e prático (Madame Guyon)


Músicas utilizadas na trilha sonora do programa

 

Jean Baptiste Lully – L’Orchestre du Roi Soleil

Jean Baptiste Lully – Miserere (1664)

Jean Baptiste Lully – Ballet Royal de la Nuit

Ruth Fernandes – Mais perto Quero Estar (DVD Live In Concert) https://www.youtube.com/watch?v=j5dL8qnQwrg

My Hymns – A Little Bird I Am https://www.youtube.com/watch?v=ikFZvX9Vheo&t=49s

Popular 17th Century Tunes – La Bourrée

 

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