Noite que não dorme, dia que se sonha – Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

25 de julho de 2020

Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

Dia de Flora, Cleusa e Archimínia e da Mulher Negra Cristã

A noite não adormece

nos olhos das mulheres

a lua fêmea, semelhante nossa,

em vigília atenta vigia

a nossa memória.

A noite não adormece nos olhos das mulheres, de Conceição Evaristo

Como você tem dormido à noite? Só pra marcar temporalmente esse texto, estamos há meses vivendo em uma pandemia que, aqui no Brasil, tem características que nos causam muita tristeza e indignação. Somos um dos países com o maior número de mortes mundiais, sem o apoio de políticas públicas federais e enfrentando crises políticas e a disseminação de discursos anticiência.

Quem morre de Covid-19 é gente preta. Os dados publicados muito tardiamente pelo Ministério da Saúde mostram que, de cada 4 pessoas negras hospitalizadas, uma morre, ao mesmo tempo em que o número de infecções de pessoas brancas diminui e em pessoas negras tem aumentado e as mortes na periferia deixam evidentes as desigualdades da saúde pública brasileira.

Não só do acesso à saúde, mas mostra também que falar de isolamento requer um olhar para as habitações brasileiras, exigir ensino remoto nos faz pensar sobre quem tem acesso às tecnologias, ensinar sobre melhorar a imunidade por meio da alimentação expõe a fome, considerar ficar de homeoffice não inclui as mulheres negras que precisam sair para trabalhar na casa das patroas brancas e ricas para encerrar o expediente sem o próprio filho. 

Mesmo que psicólogas e pesquisadoras (e o próprio cotidiano insone) mostrem que temos dificuldade para dormir por causa da ansiedade durante uma pandemia cheia de incertezas, te desafio a pensar nas noites interrompidas de meninas, adolescentes, mães e avós negras hoje no Brasil. Ainda que não durmam, essas meninas e mulheres se levantam todos os dias.

Hoje é o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data muito importante que mostra a coletividade feminina negra. Em 25 de julho de 1992, aconteceu o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, na República Dominicana, e a ONU reconheceu que mundialmente neste dia sejam fomentadas atividades para pensar e avaliar ações e políticas de combate ao racismo, machismo e lgbtfobia específicas para as meninas e mulheres negras. No Brasil, desde 2014, o 25 de julho é o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela representa as mulheres negras brasileiras por sua história de luta e por ser retrato de uma trajetória que nos impulsiona para o futuro.

Como cristãs, somos perfeitamente representadas por Tereza e queremos somar ao coletivo dela a vida de três mulheres negras que são inspiração para nós. Aqui no Projeto Redomas o dia 25 de julho também é dia de Flora, Cleusa e Archimínia. Flora Maria Blumer de Toledo, foi escravizada e é considerada a primeira mulher negra metodista do Brasil, Cleusa Caldeira é pastora e teóloga e tem sido referência para pensar a teologia e o pastorado a partir da perspectiva decolonial e Archimínia Barreto, professora e intelectual batista, foi a primeira professora pública da Bahia.

“A noite não adormece nos olhos das mulheres” e sempre que pensamos ou repetimos essa frase lembramos da noite de Hagar (Gênesis 21). Não podemos baixar a guarda, não podemos parar de lutar, não podemos fechar os olhos, mas Hagar nunca esteve sozinha. Hoje mulheres negras em coletivo são o reflexo do cuidado de Deus. Esperançosas que voltaremos a nos reunir em breve para continuar nossa experiência de mundo plural e coletiva, marcamos esse dia 25 como único. 

Nossa oração hoje é para que meninas negras tenham acesso a educação de qualidade, que as infâncias delas sejam dignas e seguras, que meninas adolescentes possam ter acolhida nas questões relacionadas às mudanças físicas e psíquicas próprias da idade e que consigam se constituir como mulheres negras em sua identidade sem a violência de gênero e longe do racismo, que as mães negras tenham suporte em suas maternagens e que tenham condições de trabalho, salário e moradia suficientes para criar suas filhas e filhos. Oramos para que meninas e mulheres negras possam ser amadas integralmente e compartilhar afeto. Oramos para que mulheres negras possam acessar espaços de poder, para que se multipliquem em liderança para lutar por mais políticas públicas e que possam ser voz para que mais e mais negras movimentem o mundo e as estruturas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.